UDC - FACULDADE DINÂMICA DAS CATARATAS
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
Disciplina: Projeto Urbanístico I – PRU I
Profa. Sílvia Betat – 2º semestre de 2009
TEXTO DE APOIO nº 5
Cidades Medievais
A Idade Média
Corresponde a um período intermediá rio, na divisão esquemática da Europa em quatro eras:
• Idade Antiga (~ 4.000 a.C. até 476 d.C.)
• Idade Média (476 a 1.453 d.C.)
• Idade Moderna (1.453 a 1.789 d.C.)
• Idade Contemporânea (1.789 a ...)
O período medieval é considerado um evento estritamente europeu. Tradicionalmente, é delimitado
em função de eventos políticos marcantes:
• Término do Império Romano, no Ocidente, em 476 d.C. (séc. V).
• Fim do Império Romano, no Oriente (queda de Constantinopla), no ano 1.453 d.C. (século XV).
A Idade Média é geralmente divida em 2 períodos:
• Alta Idade Média: do séc. V ao séc. X.
• Baixa Idade Média: do séc. XI ao séc. XV.
Contexto do início da Idade Média
• Com a queda do Império Romano, reestrutura-se o Continente Europeu nos moldes das tribos
germânicos e dos seus sistemas políticos. As culturas dos povos germânicos são basicamente
rurais, assim que eles não dão continuidade ao funcionamento das cidades romanas. Apenas as
cidades com sede de bispos (Igreja Católica) permanecem nos mesmos sítios como antes (Roma,
Paris, Colónia, etc.).
• Durante a grande Migração (375-568 d.C.), vários povos germânicos atravessam Europa em busca
de novas terras, desfazendo o Império Romano, mas adoptando o Cristianismo.
• A partir do século VIII, os Impérios germânicos se consolidam desenvolvendo características típicas
da sociedade medieval.
Processo de formação do desenvolvimento urbano
Depois da queda do Império Romano, no séc. V, a vida urbana na Europa se viu bastante reduzida
até que, no começo dos séculos X e XI, a estabilidade política e o ressurgimento do comércio deram
nova vida a muitas antigas fundações romanas, converteram os Burgos em povoações orientadas
comercialmente, e instigaram o longo processo pelo qual um certo número de aldeias se
transformaram em cidades.
• A Idade Média foi o período de formação do desenvolvimento urbano da Europa.
• O contexto político, económico e social é extremamente complexo, bem como as cidades
apresentam uma variedade de formas quase infinita.
• O contexto do desenvolvimento urbano em diferentes países europeus apresenta determinadas
semelhanças, que permitem estabelecer considerações gerais:
– O feudalismo
– O adiantado ressurgir do comércio, relacionado com o papel da Igreja
– A situação da indústria medieval
– Traços comuns na morfologia urbana.
Religião e comércio
• A religião unificadora é o Cristianismo sob liderança da Igreja Católica (Roma). Cada rei, duque e
conde, como outros líderes, precisa de aprovação política pelo Papa.
– Os mosteiros representam os centros intelectuais, mas são igualmente centros produtivos agrários
(monopólios de vinho e cerveja)
– As sedes dos bispos tornam-se os maiores centros urbanos.
• A Igreja adotou as circunscrições administrativas do Império Romano como base de sua organização
eclesiástica, fazendo corresponder cada diocese a uma civitas. Estas cidades conservaram suas
funções comerciais.
• O comércio de certa relevância ficou interrompido em função do clima político instável durante os
séculos VII e VIII (avanço muçulmano).
• Além da protecção que permitiam as cidades episcopais amuralhadas e os monastérios
poderosamente defendidos, numerosos Burgos estabelecidos por toda Europa com centros
administrativos e militares bem fortificados, serviram também para promover o ressurgimento do
comércio no século X.
Feudalismo
• A sociedade baseia-se no sistema feudal, um sistema de obrigações mútuas entre senhor feudal e
servo/vassalo. Enquanto os senhores garantem a segurança do vassalo e mantém o sistema jurídico,
os vassalos que usufruem de moradia livre no território do senhor retribuem com trabalho gratuito e
serviços de guerra, como também impostos.
– A população rural mora em aldeias, pequenos povoados entre 500 e 5000 habitantes.
– A nobreza vive em Burgos + castelos controlando os seus territórios fragmentados.
• Durante os séculos XII e XIII o feudalismo era na Europa a base do governo local, da justiça, da
legislação, do exército e de todo o poder executivo.
• Neste período todas as terras estão sob o poder do rei, rodeado de um círculo de arrendatários
maiores, tanto leigos como componentes do clero. Estes arrendatários estão obrigados a prestar
serviços mais ou menos específicos em troca de suas terras.
• Os habitantes das cidades que estão surgindo também estão sujeitos a um senhor feudal ou ao rei.
Em algumas comunidades os burgueses desfrutam da condição de pequenos possuidores de feudos
isentos, e em uma minoria dos casos, os burgueses estabelecem o direito de tratar colectivamente com
o senhor feudal.
Indústria medieval
• A indústria medieval se desenvolveu especialmente na Inglaterra, de modo descentralizado e como
uma ampla rede rural.
• As principais indústrias da Inglaterra medieval foram a produção de tecidos e a produção e forja do
ferro.
• A madeira era importante matéria prima para construções e para a produção de carvão (requerido
pela indústria do ferro).
• Os níveis de produção se mantiveram baixos até o final da Idade Média, quando o crescimento da
demanda fez com que algumas pequenas cidades se convertessem em centros industriais urbanos.
Castelo
• Os castelos são um símbolo do período medieval.
• A nobreza vive em situações isoladas, geralmente em pontos destacados dos seus territórios.
• Possui funções de segurança, armazenagem e economia, e moradia da nobreza.
Forma urbana medieval
• As cidades medievais têm contextos sociais, económicos e políticos semelhantes, na maior parte dos
países europeus. Os edifícios tradicionais locais cobrem a maior parte das ruas.
Elementos que geralmente compõem a cidade medieval
• Muralha, com suas torres e portas.
• Ruas e espaços afins, destinados à circulação.
• Mercado.
• Igreja e seu próprio espaço urbano.
• Aglomeração de edifícios da cidade.
A Muralha
• Quando as riquezas de um assentamento requeriam protecção, a cidade era cercada com uma
muralha.
• As muralhas também serviam de barreira aduaneira, protegendo os interesses comerciais dos
cidadãos.
• As muralhas condicionaram o crescimento horizontal em etapas: quando a cidade crescia fora das
muralhas, logo era construída outra muralha que englobava o subúrbio antes indefeso.
• Em alguns casos as muralhas eram construídas abrangendo os subúrbios descontínuos.
• Florença é um exemplo do crescimento europeu em anéis concêntricos.
• A cidade teve um enorme crescimento entre 1.172 e 1.340 d.C. Sua superfície passou de 80 a 630
hectares.
As Ruas
• As principais ruas que uniam o centro com as portas da cidade eram pouco mais que estreitas vielas
de traçado irregular. Eram extensões lineares do mercado e rotas de comunicação.
• Os deslocamentos nas cidades medievais eram realizados a pé e o transporte de mercadorias era
realizado principalmente com animais de carga. Somente no final do período que o tráfego rodado
alcançou proporções significativas.
• Ao longo da Idade Média se manifesta a tendência dos edifícios invadirem cada vez mais as ruas
(inclusive as pontes) e os espaços públicos abertos.
• As fachadas que se abriam para a rua tinham notável valor comercial.
• As cidades medievais dispunham de precários sistemas de recolhimento de lixo.
• O abastecimento de água era um problema constante, particularmente em cidades localizadas em
colinas.
• As condições sanitárias estavam relacionadas com o adensamento.
• A típica cidade medieval se achava mais próxima ao que agora denominaríamos uma aldeia ou uma
população rural do que uma moderna aglomeração comercial.
• A pavimentação das ruas começou no século XII em Paris.
• Algumas cidades medievais de origem romana, após abandonadas por um período de tempo, ao
estabelecer-se novamente, mantiveram os eixos principais cruzados do cardo e do decumanus, que
seguiram formando a base do seu traçado.
O Mercado
• A comercialização de produtos (a razão de ser das cidades medievais) tinha lugar de vários modos.
Dois tipos são mais comuns:
• Em povoados sem planejamento, a praça e a rua do mercado desafiam qualquer tentativa de
descrição. Não havia dois traçados iguais.
• O traçado irregular se justifica pela prioridade dada aos edifícios: as necessidades dos edifícios que
circundavam a praça determinavam a disposição do espaço aberto.
• As cidades que evoluíram de forma natural a partir das antigas aldeias ou postos comerciais, a via
pública principal se transforma automaticamente na localização do mercado, já que o tráfego é
elemento fundamental para o crescimento da cidade.
• A venda a miúdo era realizada, em grande parte, no mercado. A loja medieval era mais uma oficina
do que um comércio.
• A área imediata na parte interna da porta da cidade era outro lugar lógico para desenvolver as
atividades comerciais. Um camponês, com produtos para vender, já está dentro da cidade e não
precisa carregar os produtos até o mercado.
A praça da Igreja
• O espaço situado em frente à Igreja – parvis medieval – obrigava as igrejas a estarem situadas
dentro de seu próprio espaço na cidade.
• O parvis era o local onde os fiéis se reuniam antes e depois das atividades religiosas, escutavam
sermões ao ar livre e viam passar as procissões. Os fiéis de fora da cidade deixavam ali seus cavalos.
• Este espaço era vizinho à praça do mercado, constituindo um núcleo duplo típico das cidades
medievais.
As novas cidades
• Cidades novas são fundadas na periferia do mundo europeu, por motivos econômicos ou militares:
• As bastides na França, por iniciativa dos reis e feudatários franceses e ingleses que se combatem na
Guerra dos Cem Anos.
• As poblaciones na Espanha, nos territórios que os príncipes cristãos tomam pouco a pouco dos
muçulmanos.
• As cidades de colonização na Alemanha Oriental.
• O desenvolvimento das cidades e a fundação de cidades novas nos campos se interrompe na
metade do século XIV (aproximadamente), devido a uma brusca diminuição da população.
• A peste negra, em 1.348 – 1.349 d.C., e o declínio da atividade econômica são indicados como
causadores da interrupção do crescimento das cidades.
Fim da Idade Média
A transição da Idade Média para a Era Moderna é marcada por alguns eventos:
• Queda de Constantinopla, em 1.453 d.C.
• Ascensão das monarquias nacionais européias.
• Início da recuperação demográfica e econômica após a Peste Negra.
• Descobrimentos marítimos
• Movimento de redescoberta da cultura clássica, no século XV.
• A Reforma Protestante, a partir de 1.517 d.C.
Referências bibliográficas
• Morris, A. E. J. Historia de la forma urbana: desde sus orígenes hasta la Revolución Industrial. -
7ª. ed.- Barcelona: Gustavo Gili, 2001.
• Sahr, Wolf-Dietrich; Sahr, Cicilian L. Löwen. Forma, função e evolução da cidade. (apostila de
Geografia Urbana). UFPR, 2007.
• Benevolo, Leonardo. História da Cidade. São Paulo: Perspectiva, 2007.
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