Páginas

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Os Han (202 a.C. – 220 d.C.)


A herança de trinta e sete gerações de príncipes de Ts’in foi recolhida por Lieu Pang, um camponês afortunado, que se fez sucessivamente soldado, chefe de bando, senhor feudal, conquistador e, finalmente, após vencer seu rival Hiang Yu na batalha de Kai-Hia, no rio Huai, em Janeiro de 202 a.C., imperador da China e fundador de uma dinastia que iria imperar durante quatro séculos.

A época mais brilhante da dinastia dos Han ocorreu sob o reinado do imperador Wu-ti (140 – 87 a.C.). Enérgico e inteligente, soube opor-se às pretensões da nobreza que pretendia reviver a época feudal e cercou-se de letrados confucionistas por tanto tempo desprezados e até mesmo perseguidos. Para impedir o fortalecimento do feudalismo, ordenou que o herdeiro de qualquer domínio dividisse as terras entre seus irmãos.


As Dinastias
· Os Hia
· Os Chang
· Os Tchéu
· A época feudal
· Os ts’in
· Os Han
· Os três reinos
· Os Ts’sins e os Bárbaros



Externamente Wu-ti procurou estender as fronteiras de seu império, conquistando definitivamente a China, com a bacia do Huai e com o litoral meridional, toda a imensa região do rio Azul e anexando o reino de Cantão. Mas a atividade guerreira de Wu-ti não se fez sentir somente na região sul. A luta contra os hunos e a conquista da Ásia Central figuraram entre os fatos marcantes de sua política externa. Resultados dessas vitórias e conquistas foi o estabelecimento de uma verdadeira “Pax Sínica” através da Ásia Central e Oriental. Nessa época viveu Sseu-ma Ts’in, o historiador a que já aludimos e o poeta Sseu-ma Siang-Ju, que descreveu a beleza selvagem das caçadas imperiais.

Outro soberano Han que deve ser mencionado é Siuan-Ti (73-49 a.C.). Sob seu reinado foram feitas diversas expedições à Ásia Central provocadas pelos tradicionais adversários chineses: os hunos. A divisão destes entre dois chefes rivais, depois do ano 60 a.C., facilitou a ação militar chinesa: protegeu o huno Hu-han-ye que se declarava vassalo do Filho do Céu contra Tche-Tche. Este, derrotado, dirigiu-se com outros hunos para o Ocidente aliando-se a tribos bárbaras indo-européias e instalando-se nas estepes do Tchu e do Talas; uma expedição chinesa, entretanto, pôs fim às ambições de Tche-Tche em 36 a.C.. Os hunos ocidentais só vão reaparecer no cenário histórico quando no século IV cruzarem o Volga e o Don para atacar o mundo germânico e o Império Romano.

No ano 9 d.C. o trono dos Han foi ocupado pelo usurpador Wang Mang que deveria exercer o poder até 22 d.C.. Imbuído das idéias dos letrados sobre o governo, Wang Mang surge na historia Chinesa como um reformador contra os latifúndios considerados como a causa principal da miséria dos camponeses. No ano 6 da nossa era, já sob a influencia de Wang Mang, que ainda não era imperador, fora proibido, a quem que fosse, possuir mais de cento e cinqüenta hectares de terra sob pena de confiscação do excedente. Tendo subido ao trono, Wang Mang deu a cada família de oito pessoas uma propriedade de cinco hectares, obrigando, ao mesmo tempo, aos proprietários de domínios mais vastos a distribuir o excesso a seus parentes e vizinhos. Compreende-se que essas e outras reformas, como a proibição do tráfico de escravos, tenham despertado uma reação tremenda no vasto império. Os legitimistas que desejavam a volta dos Han escolherem Lieu Hiuan, príncipe da velha dinastia, como chefe; Wang Mang foi então deposto e assassinado.
Os Han que haviam reinado até o ano 6 da nossa era são conhecidos como “Han Ocidentais ou Anteriores”; sua capital foi Tch’ang-ngan ou Si-ngan-fu em Chen-si. Os Han restaurados são os “Han Orientais ou Posteriores” e reinaram em Lo-Yang ou Ho-nan-fu, em Ho-nan.

Lieu-Hiuan se revelou desde logo incapaz das grandes funções que lhe cabiam como imperador num momento de tremenda crise político-social; foi então substituído por outro príncipe Han, Lieu Sieu que se o imperador Kuang Wu-ti (25-57). Nos trinta e dois anos de seu reinado conseguiu restabelecer a paz interna e a hegemonia chinesa na Ásia Oriental. Vamos tentar resumir nas seguintes linhas alguns fatos característicos dos dois séculos de domínio “Han restaurados”.

1. Em primeiro lugar, citemos as constantes questões dinásticas relacionadas com a sucessão ao trono. Revoltas de príncipes de sangue, intrigas e assassinatos na corte, influencia preponderante de certas imperatrizes viúvas.

2. Esses distúrbios não impediram, de um modo geral, que a sólida maquina administrativa e militar do império funcionasse graças sobretudo a alguns generais decididos entre os quais figura o famoso Pan Tch’ao, guerreiro audacioso e capaz, cujo nome está, durante cerca de 30 anos, intimamente ligado à conquista e ação civilizadora dos chineses na Ásia Central e que recebeu o titulo de “Protetor Geral dos países do Ocidente”.

3. A “Pax Sínica” favoreceu as relações comerciais com regiões longínquas.

4. Foi sob os Han Orientais, que o Budismo, seguindo a rota aberta pelos soldados e mercadores, penetrou na China. A pregação da nova religião, que já florescia na Índia, havia mais de meio milênio, foi favorecida por dois fatos políticos. Primeiro, a integração de parte da Índia do noroeste e do Afeganistão (países e que se difundira o budismo) Império Indo-cita; este império manteve excelentes relações com a China. Segundo, a extensão do Império dos Han até o Pamir, nas portas da Índia e a abertura da famosa estrada da seda. Note que sob os Han a propaganda budista não obteve maiores êxitos, que acusaram a religião estrangeira de inimiga da família por fazer periclitar o culto dos antepassados.

5. Um acontecimento de capital importância para a cultura chinesa foi sob os Han, a fixação dos textos das obras atribuídas a Confúcio e à escola. Para garantir a duração dessa obra grandiosa foram gravados os ditos textos em estelas de pedra. Com o prestigio da doutrina confucionista se afirma igualmente a importância dos letrados organizados em verdadeira classe.
6. O Taoísmo, conheceu sob a dinastia dos Han Posteriores uma larga difusão entre as massas populares. Os taoístas militantes identificavam-se mediante o uso de um turbante amarelo. Suas preocupações saíram do terreno religioso para o social, atingindo a própria política. Em 184 d.C. estourou a rebelião dos turbantes amarelos, reprimida com crueldade e energia. A essa rebelião juntaram-se as intrigas da corte e as ameaças externas dos Hunos. Um general decidido, Ts’ao Ts’ao, proclamou-se então, (196 d.C.) na capital do império, Lo-Yang, o protetor do império. Em 220 o “protetor” morreu e seu filho Ts’ao P’ei depôs o imperador Hien-ti, usurpando o trono e fundando a dinastia dos Wei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário