Revista "MUNDO e MISSÃO"
Igreja no Mundo - Geral
O SIMBOLISMO DE CENTRO E UNIVERSALIDADE
a escrita chinesa, desde tempos remotos até hoje, a Cruz forma um sinal-chave para indicar as idéias de ENCONTRO-AMIZADE-RELACIONAMENTO-HARMONIA-CONCÓRDIA-PRESENÇA-PROXIMIDADE-O OUTRO-O IRMÃO-UNIÃO-LIGAÇÃO-SOCORRER O PRÓXIMO-CONSONÂNCIA-RIMA.
Em chinês, a Cruz indica ainda a idéia de UNIVERSALIDADE e PLENITUDE: INTEIRO-PERFEITO-COMPLETO-EXTREMO-LARGO-MIL-TODOS-INFINITO-PERFEIÇÃO. Expressa o SUPERLATIVO: EXTREMAMENTE BONITO-MIL MARAVILHAS-ETERNIDADE SEMPRE.
Cruz Árvore e Sol, os fiéis unidos a Cristo, Gezer, século 3, Palestina
Os hebreus, à semelhança dos chineses, carregavam esse sinal com toda a força do símbolo: VIZINHANÇA-AMIZADE-SIMPATIA-TOTALIDADE-FARTURA-PERFEIÇÃO. No alfabeto hebreu a CRUZ (TAU) é a última letra. Para o hebreu significa também: TERMO-CHEGADA-META FINAL-ASSINATURA. A CRUZ (TAU) é usada para representar o NÚMERO 400, isto é, a SUPERABUNDÂNCIA. O número 4 é a expressão dos quatro cantos da terra, da universalidade, da RIQUEZA. O 400 é pois o SUPERLATIVO DE UM SUPERLATIVO, a FARTURA INFINITA.
Na matemática, a cruz assumiu desde os babilônios, o sentido de MULTIPLICAÇÃO e SOMA.
No Cristianismo, é o símbolo da REDENÇÃO UNIVERSAL, da RECONCILIAÇÃO e da PAZ (Ef. 2, 14-17 e CL.1, 19-20). É a VITÓRIA DA VIDA. Um HOMEM-DEUS (Jesus) esteve ali de BRAÇOS ABERTOS, num gesto de reconciliação e confraternização.
Cruzes Âncoras, grafismos nas catacumbas romanas do século 1
Homem-Deus uniu em si os DOIS EXTREMOS, como as traves em que esteve pregado. A CRUZ lembra a MORTE, o NADA, o MUNDO PRESENTE (trave HORIZONTAL). Mas também aponta para CIMA, para a ETERNIDADE, para a RESSURREIÇÃO (trave VERTICAL), Ali "tudo está consumado".
Não queremos dizer que o cristão, colocando a cruz em cima de um túmulo, tivesse consciência de toda a riqueza deste sinal. Dizemos apenas que este sinal carregou sempre em si em todas as civilizações antigas, um conteúdo simbólico extraordinário, como se fosse uma PROFECIA DA REDENÇÃO UNIVERSAL, presente em todas as culturas. Num túmulo raso e simples, a cruz enterrada no chão aponta para o nada e aponta para o além.
A âncora, muitas vezes, foi um símbolo dissimulado da cruz.
"Cristo foi pregado na cruz de modo a resumir nela, em si, o universo". Santo Irineu
A forma de cruz atua, também, como um gesto de bênção. O sinal da cruz, usado pelos cristãos em vários ritos como ao entrar na igreja, ao iniciar um trabalho ou no início das refeições, o coloca juntamente com o seu Redentor e, diviniza, plenifica e dá o verdadeiro sentido ao gesto que vai começar, não em seu próprio nome mas em nome d'Aquele que habita no cristão e na comunidade.
A CRUZ É O SÍMBOLO QUE REASSUME, EM SI, TODO O MISTÉRIO DA REDENÇÃO
Para a Bíblia, a Cruz é a ÁRVORE DA VIDA, o centro do Paraíso Terrestre, que por sua vez representa o centro do mundo. Porém, no Paraíso Terrestre não havia só a Árvore da Vida, mas também, uma outra árvore não menos importante: a Árvore da Ciência do Bem e do Mal.
A relação entre as duas árvores não é bem clara, mas a aproximidade dessas, simbolicamente unidas, é tal que se pode pensar sempre nas duas.
Qual é a realidade desta ligação? Dualidade de dois termos opostos para as Árvores da Ciência do Bem e do Mal e Unidade, a Árvore da Vida no eixo do Mundo. A dupla natureza da Árvore do Bem e do Mal aparece a Adão somente no momento da "queda" e, só então, Adão conhece o Bem e o Mal. Depois do Pecado, Adão é distanciado do Centro e assim, o homem desde aquele momento perdeu o sentido da Eternidade e da Unidade: iniciou a angústia.
A Cruz de Cristo ocupa, agora, o lugar central próprio da Árvore da Vida e o mesmo se pode dizer da Cruz colocada entre o sol e a lua, como se vê na maior parte das obras antigas. Portanto, verdadeiramente a Cruz do Cristo é o eixo do mundo.
É da Árvore da Vida no Paraíso Terrestre (segundo o Gênesis e o Apocalipse), dos seus pés, que brotam os quatro rios em direção dos quatro pontos cardeais, desenhando sobre a superfície da Terra a Cruz. É do lado aberto do Cristo na Cruz que jorra sangue e água, nova fonte de vida, imagem da graça e do Espírito Santo. Os dois aspectos da Cruz, dolorosa e gloriosa, formam o centro simbólico para onde convergem os olhares e a atenção dos fiéis.
AS CRUZES NO CRISTIANISMO
Crucifixo blasfemo do Palatino
A Cruz, na Antiguidade Pré-Cristã, como princípio geométrico, é plena de significado cósmico, metafísico e mágico. O hieróglifo egípcio de cruz suástica significa saúde e vida eterna.
O TAU dos semitas e dos gregos significa saúde, plenitude. Cruzes eram colocadas nos timbres, nas colinas, nas estelas babilônicas. Em cruz se interceptavam as duas principais vias das cidades romanas, a decumena e o cardo.
As mais antigas representações cristãs da Cruz não foram apenas cruzes, mas símbolos da Cruz: Moisés que abre os braços (no rito da Missa, o sacerdote quando abre os braços); a "serpente de bronze" no deserto, segundo o livro dos Números...
A forma de cruz mais antiga do Cristianismo nos vem da época da perseguição de Nero e é um grafismo encontrado recentemente no PAEDAGOGICUM Imperial sobre o monte Palatino, com a inscrição "Alexamenos ora ao seu deus". É uma forte crítica de um aluno pagão ao seu colega cristão. A figura tem corpo humano e cabeça de burro.
Basílica de São Apolinárioem Classe, século 6. A cruz e São Apolinário
Nas catacumbas romanas igualmente temos a figura da orante, o navio com a árvore e a vela, a ancora da feliz chegada. No Oriente, a Cruz era simples, com 4 braços iguais ou inscrita num círculo glorioso, como na Síria e na Frigia, e mais tarde também no Ocidente, nas belíssimas cruzes de pedra irlandesas.
A Cruz escatológica, símbolo do Juízo Final e sinal de Vitória, é muito anterior a Constantino, mas aparece somente depois do triunfo político do Cristianismo.
A Cruz está presente nas plantas das primeiras basílicas em forma de TAU, nos Batistérios e nas igrejas com planta central.
Nas absides das primeiras igrejas romanas, em mosaico, aparece a cruz dourada cravada de pedras preciosas e postas sobre um monte ou sobre um trono de onde jorram os quatro rios da vida.
A Cruz Triunfal está presente em uma série de imagens de incomparável beleza em Ravena, no Mausoléu de Galla Placidia e em Santo Apolinário em Classe. Exprimem Ressurreição!
O culto da Cruz
Cruz de Copenhagen, 1150
O culto da Cruz se inicia com a descoberta do madeiro da Cruz pela imperatriz Santa Helena, mãe de Constantino, sempre aconselhada espiritualmente por São Macário de Jerusalém. As relíquias da Cruz se difundiram em todo o mundo e deste culto originaram-se os belíssimos relicários do século 5 e 6. Muitas vezes nos sarcófagos paleocristãos, estão cenas da paixão, porém sem a crucifixão.
Raramente representada antes do século 5, os dois primeiros grandes exemplos são do Portal de madeira da Basílica de Santa Sabina em Roma e de um pequeno cofre de marfim que está no Britsh Museum de Londres.
A primeira representação importante e verdadeira, agora do Crucifixo, encontramos em Santa Maria Antiqua em Roma. O Cristo sobre a Cruz está vivo, com grandes olhos bem abertos e vestido como sacerdote.
Cruz de Matthias Grünewald
Antes de tudo é Deus. O crucifixo com Cristo morto, olhos fechados, aparece só depois do século 9.A liturgia da Cruz é sobretudo uma liturgia de Glória. A cruz sempre foi nobre troféu, dourado: é o estandarte do Rei, o cetro com o qual o Salvador triunfou.
Hoje, após o Concílio Vaticano II, se insiste nas "cruzes processionais" levadas até o Altar e não grandes crucifixos nas paredes.Na sexta feira santa, se acompanhava a procissão de adoração da Cruz com cânticos de Triunfo.
Do século 12 em diante, se perde o sentido da glorificação e se prende ao sofrimento de Cristo. Inicia-se assim o "dolorismo" de São Bernardo, cheio de devocionismos para com a humanidade do Cristo.
Porém, o sofrimento aceito é já a segurança da glória e fonte de alegria. Daqui prá frente, todos os crucifixos refletirão espiritualidades individualistas, tanto para os católicos como para jansenistas, luteranos...
Os crucifixos, após o século 17, atingem tão somente o centro nervoso humano e o Mistério da Cruz desaparece do seu centro, isto é, o Mistério Pascal. Refletem o desespero do "abandono na cruz" ou a angústia da morte.
Neste século 20, os movimentos litúrgicos que prepararam o Concílio, com o desejo de volta às fontes, nos apresentaram o Cristo Glorioso na Cruz, muito embora o Cristo ensangüentado e de mau gosto pareceu predominar, não pelo reflexo da pobreza e sofrimento de um povo, mas por ignorância, dada a pouca cultura religiosa desse final de século.
Hoje, é atual e necessário testemunhar a Ressurreição de Cristo com a Cruz Gloriosa. Sem dúvida, a verdadeira Cruz que nos vem do Mistério Pascal contribui dando luz, paz, alegria à humanidade angustiada: Ela se insere na nossa vida com a atração irresistível proclamada por João no seu Evangelho "quando serei levantado, atrairei todos a mim" e com a visão cósmica de Teilhard de Chardin "eu vejo a vossa carne, Senhor, prolongar-se no universo inteiro..."
Visite as outras páginas[P.I.M.E.] [MUNDO e MISSÃO] [MISSÃO JOVEM] [P.I.M.E. - Missio] [Noticias] [Seminários] [Animação] [Biblioteca] [Links]
Voltar
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário