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PARTE 2 – O DESENHO ARQUITETÔNICO
1 O PROJETO E O DESENHO DE ARQUITETURA
Os projetos arquitetônicos devem conter todas as informações necessárias para
que possam ser completamente entendidos, compreendidos e executados. O
projeto de arquitetura é composto por informações gráficas, representadas pelos
desenhos técnicos através de plantas, cortes, elevações e perspectivas – e por
informações escritas – memorial descritivo e especificações técnicas de materiais
e sistemas construtivos.
O desenho arquitetônico é uma especialização do desenho técnico normatizado
voltada para a representação dos projetos de arquitetura. O desenho de
arquitetura, portanto, manifesta-se como um conjunto de símbolos que expressam
uma linguagem, estabelecida entre o emissor (o desenhista ou projetista) e o
receptor (o leitor do projeto). É através dele que o arquiteto transmite as suas
intenções arquitetônicas e construtivas.
Assim, o projeto arquitetônico é composto por diversos documentos, entre eles as
plantas, os cortes e as elevações ou fachadas. Neles encontram-se as
informações sob forma de desenhos, que são fundamentais para a perfeita
compreensão de um volume criado com suas compartimentações. Nas plantas,
visualiza-se o que acontece nos planos horizontais, enquanto nos cortes e
elevações o que acontece nos planos verticais. Assim, a partir do cruzamento das
informações contidas nesses documentos, o volume poderá ser construído. Para
isso, devem ser indicadas todas as dimensões, designações, áreas, pés direitos,
níveis etc. As linhas devem estar bem diferenciadas, em função de suas
propriedades (linhas em corte ou vista) e os textos claros e corretos.
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1.1OS ELEMENTOS DO DESENHO ARQUITETÔNICO
Os elementos do desenho arquitetônico são vistas ortográficas formadas a partir
de projeções ortogonais, ou seja, sistemas em que as linhas projetantes são
paralelas entre si e perpendiculares ao plano projetante. Se forem consideradas
as linhas projetantes como raios visuais do observador, seria como se o
observador estivesse no infinito – assim os raios visuais seriam paralelos entre si.
Os desenhos básicos que compõem um projeto de arquitetura, a partir de
projeções ortogonais, são: as plantas baixas, os cortes, as elevações ou fachadas,
a planta de cobertura, a planta de localização e a planta de situação.
Planta Baixa: desenho onde são indicadas as dimensões horizontais. Este
desenho é o resultado da interseção de um plano horizontal com o volume
arquitetônico. Consideramos para efeito de desenho, que este plano encontra-se
entre 1,20 a 1,50m de altura do piso do pavimento que está sendo desenhado, e o
sentido de observação é sempre em direção ao piso (de cima para baixo). Então,
tudo que é cortado por este plano deve ser desenhado com linhas fortes (grossas
e escuras) e o que está abaixo deve ser desenhado em vista, com linhas médias
(finas e escuras). Sempre considerando a diferença de níveis existentes, o que
provoca uma diferenciação entre as linhas médias que representam os desníveis.
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Cortes: são os desenhos em que são indicadas as dimensões verticais. Neles
encontramos o resultado da interseção do plano vertical com o volume. A posição
do plano de corte depende do interesse de visualização. Recomenda-se sempre
passá-lo pelas áreas molhadas (banheiro e cozinha), pelas escadas e poço dos
elevadores. Podem sofrer desvios, sempre dentro do mesmo compartimento, para
possibilitar a apresentação de informações mais pertinentes. Podem ser
transversais (plano de corte na menor dimensão da edificação) ou longitudinais
(na maior dimensão). O sentido de observação depende do interesse de
visualização. Os cortes devem sempre estar indicados nas plantas para
possibilitar sua visualização e interpretação.
Elevações ou Fachadas: são desenhos das projeções verticais e horizontais das
arestas visíveis do volume projetado, sobre um plano vertical, localizado fora do
elemento arquitetônico. Nelas aparecem os vãos de janelas, portas, elementos de
fachada, telhados assim como todos os outros visíveis de fora da edificação.
Planta de Cobertura: representação gráfica da vista ortográfica principal superior
de uma edificação, ou vista aérea de seu telhado, acrescida de informações do
sistema de escoamento pluvial.
Planta de Localização: representação da vista ortográfica superior esquemática,
abrangendo o terreno e o seu interior, com a finalidade de identificar o formato, as
dimensões e a localização da construção dentro do terreno para o qual está
projetada.
Planta de Situação: vista ortográfica superior esquemática com abrangência de
toda a zona que envolve o terreno onde será edificada a construção projetada,
com a finalidade de identificar o formato, as dimensões do lote e a amarração
deste no quarteirão em que se localiza.
Outros: as perspectivas e as maquetes são também de extrema importância para
a visualização e compreensão de um projeto arquitetônico. Nelas temos a
visualização da terceira dimensão, o que não ocorre nas plantas, cortes e
fachadas já que são desenhos em 2D.
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VISTAS MÚLTIPLAS
CORTE
ELEVAÇÕES
PLANTA BAIXA
VISTAS MÚLTIPLAS/DESENHOS ORTOGRÁFICOS
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VISTA ÚNICA
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2 A PLANTA BAIXA
2.1 CONCEITUAÇÃO
A planta baixa é a representação gráfica de uma vista ortográfica seccional do tipo
corte, obtida quando imaginamos passar por uma construção um plano projetante
secante horizontal, de altura a seccionar o máximo possível de aberturas (média
de 1,20 a 1,50m em relação ao piso do pavimento em questão) e considerando o
sentido de visualização do observador de cima para baixo, acrescido de
informações técnicas.
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PLANTA BAIXA
21.20 M²
TERRAÇO
SALA
13.75 M²
BANHO
5.70 M²
00
+0.35
+0.50
+0.50 +0.48
+0.20
60x60/140
120x100/90
90x210
100x60/140
70x210
30
15
340 60 100
15
15 500
15
30 150 200
15
150
15
180 200 180
120
15
380
15
275 15
15
25 100 25
15
30 370
15
15 400
15
150
15
275
15
15 412,5 152,5 290
15
885
160
560
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SEME SCALA
2.2 DENOMINAÇÃO E QUANTIDADE
PLANTA BAIXA
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Qualquer construção projetada para um único piso terá a necessidade óbvia de
uma única planta baixa, que será denominada simplesmente “Planta Baixa”. Em
construções projetadas com vários pavimentos, será necessária uma planta baixa
para cada pavimento distinto arquitetonicamente. Vários pavimentos iguais terão
como representação uma única planta baixa, que neste caso será chamada de
“Planta Baixa do Pavimento Tipo”. Quanto aos demais pavimentos, o título da
planta recebe a denominação do respectivo piso. Exemplo: Planta Baixa do 1º
Pavimento; Planta Baixa do Sub-solo; Planta Baixa do Pavimento de Cobertura...
Utilizam-se as denominações “piso” ou “pavimento” e não andar.
2.3 COMPOSIÇÃO DO DESENHO
Como em todos os desenhos técnicos, a representação gráfica não se constituirá
apenas na reprodução do objeto, mas também na complementação através de um
determinado número de informações, ou indicadores.
Do ponto de vista didático, convém então dividir os elementos graficados em dois
grupamentos: desenho dos elementos construtivos e representação das
informações. Em planta baixa, os componentes mais comuns e normalmente
freqüentes, em cada um dos casos, são os seguintes:
a) Desenho dos elementos construtivos: paredes e elementos estruturais;
aberturas (portas, janelas, portões); pisos e seus componentes (degraus,
rampas, escadas); equipamentos de construção (aparelhos sanitários,
roupeiros, lareiras); aparelhos elétricos de porte (fogões, geladeiras, máquinas
de lavar) e elementos de importância não visíveis.
b) Representação das informações: nome das dependências; áreas úteis das
peças; níveis; posições dos planos de corte verticais; cotas das aberturas;
cotas gerais; outras informações.
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2.4 REPRESENTAÇÃO DOS ELEMENTOS CONSTRUTIVOS
2.4.1 PAREDES
São representadas de acordo com suas espessuras e com simbologia relacionada
ao material que as constitui. Normalmente desenha-se a parede de 15cm, ela
pode variar conforme a intenção e necessidade arquitetônica.
a) parede de tijolos:
b) parede de concreto:
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Ao utilizar a escala 1/200 ou outras similares que originem desenhos muito
pequenos, torna-se impraticável desenhar as paredes utilizando dois traços, devese
portanto desenhar as paredes “cheias”.
2.4.2 PORTAS E PORTÕES
São desenhados representando-se sempre a(s) folha(s) da esquadria, com linhas
auxiliares, se necessário, procurando especificar o movimento da(s) folha(s) e o
espaço ocupado.
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de abrir/pivotante pivotante de correr
eixo lateral eixo central externa/interna
pantográfica/ camarão sanfonada
2.4.3 JANELAS
São representadas através de uma convenção genérica, sem dar margem a uma
maior interpretação quanto ao número de caixilhos ou funcionamento da
esquadria.
a) para escalas inferiores a 1/50:
b) para escala 1/50 (mais adotada):
c) convenção alternativa:
d) convenção com detalhamento:
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2.4.4 PISOS
Em nível de representação gráfica em Planta Baixa, os pisos são apenas distintos
em dois tipos: comuns ou impermeáveis. Salienta-se que o tamanho do reticulado
constitui uma simbologia, não tendo a ver necessariamente com o tamanho real
das lajotas ou pisos cerâmicos.
a) pisos comuns:
b) pisos impermeáveis:
2.4.5 EQUIPAMENTOS DE CONSTRUÇÃO
Dependendo de suas alturas, podem ser seccionados ou não pelo plano que
define a planta baixa. Em uma ou outra situação, são normalmente representados
pelo número mínimo de linhas básicas para que identifiquem sua natureza.
a) Vaso sanitário:
b) Lavatório:
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c) Balcão com pia:
d) Tanque:
e) Chuveiro:
2.4.6 APARELHOS ELÉTRICOS
Em Planta Baixa são representados os aparelhos elétricos de porte, de posição
fixa ou semi-fixa e projetada, pela necessidade de conhecimento de seus
posicionamentos, com vista aos projetos complementares.
a) Geladeira:
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b) Fogão:
c) Máquina de Lavar:
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2.4.7 ELEMENTOS NÃO VISÍVEIS
No desenho da Planta Baixa deve-se indicar elementos julgados de importância
pelo projetista, mas situados acima do plano de corte, ou abaixo, mas escondidos
por algum outro elemento arquitetônico. Neste caso, deve-se sempre representar
o contorno do elemento considerado, através do emprego de linhas tracejadas
curtas, de espessura fina, conforme exemplificações a seguir.
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2.5 REPRESENTAÇÃO DAS INFORMAÇÕES
2.5.1 NOME DAS PEÇAS
Em todo e qualquer projeto arquitetônico, independentemente da finalidade da
construção, é indispensável a colocação de denominação em todas as peças, de
acordo com suas finalidades. Esta denominação deve atender ao seguinte:
a) Nomes em letras padronizadas, conforme NBR;
Nomes sempre na horizontal;
b) Utilização sempre de letras maiúsculas;
c) Tamanho das letras entre 3 e 5mm;
d) Letras de eixo vertical, não inclinadas;
e) Colocação convencional no centro das peças.
2.5.2 ÁREAS DAS PEÇAS
São igualmente de indispensável indicação a colocação das áreas úteis de todas
as peças, de acordo com o seguinte:
a) Colocação sempre abaixo do nome da peça;
b) Letras um pouco menores do que a indicação do nome das peças;
c) Algarismos de eixo vertical;
d) Indicação sempre na unidade “M²”;
e) Precisão de dm² (duas casas após a vírgula).
SALA DE ESTAR GARAGEM
18,30 M² 15,10 M
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2.5.3 NÍVEIS DAS DEPENDÊNCIAS
Os níveis são cotas altimétricas dos pisos, sempre em relação a uma determinada
Referência de Nível pré-fixada pelo projetista e igual a 0 (zero). A colocação os
níveis deve atender ao seguinte:
a) Colocados dos dois lados de uma diferença de nível;
b) Evitar repetição de níveis próximos em planta;
c) Não marcar sucessão de desníveis iguais (escada);
d) Algarismos padronizados pela NBR;
e) Escrita horizontal;
f) Colocação do sinal + ou - antes da cota de nível;
g) Indicação sempre em metros;
h) simbologia convencional:
00 + 0,30 - 2,10
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2.5.5 COTAS NAS ABERTURAS
PORTAS: Todas as portas e portões devem ser cotados, identificando-se sua
largura e altura, de acordo com o seguinte:
a) Sempre na ordem “l x h” (largura por altura);
b) Algarismos padronizados;
c) Posicionamento ao longo das folhas;
JANELAS: todas as janelas devem ser cotadas em Planta Baixa, identificando-se
sua largura, altura e peitoril, de acordo com o seguinte:
a) Sempre na ordem “l x h / p” (largura por altura sobre peitoril);
b) Algarismos padronizados;
c) Posicionamento interno ou externo à construção (apenas uma opção em um
projeto).
80 x 210
130 x 100/ 110
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2.5.6 COTAS GERAIS
O desenho da Planta Baixa só será considerado completo se, além da
representação gráfica dos elementos, contiver todos os indicadores necessários,
dentre os quais as cotas (dimensões) são dos mais importantes. A cotagem deve
seguir as seguintes indicações gerais:
a) As cotas devem ser preferencialmente externas;
b) As linhas de cota no mesmo alinhamento devem ser completas;
c) A quantidade de linhas deve ser distribuída no entorno da construção, sendo
que a primeira linha deve ficar afastada 2,5 cm do último elemento a ser cotado
e as seguintes devem afastar-se umas das outras 1,0cm;
d) Todas as peças e espessuras de paredes devem ser cotadas;
e) Todas as dimensões totais devem ser identificadas;
f) As aberturas de vãos e esquadrias devem ser cotadas e amarradas aos
elementos construtivos;
g) As linhas mais subdivididas devem ser as mais próximas do desenho;
h) As linhas de cota nunca devem se cruzar;
i) Identificar pelo menos três linhas de cota: subdivisão de paredes e esquadrias,
cotas das peças e paredes, e cotas totais externas.
2.5.7 OUTRAS INFORMAÇÕES
Além das informações anteriores, já discriminadas e ocorrentes em qualquer
projeto, cabe ao projetista adicionar ainda todos e quaisquer outros elementos que
845
500
150
1cm
15 300 15
200
2,5cm 1cm
15 90 10 15
15
200 150 15
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julgue serem indispensáveis ao esclarecimento e que não congestionem demais a
representação gráfica.
Entre os mais freqüentes, citam-se: dimensões de degraus; sentido de subida das
escadas (setas); capacidade de reservatórios superior e inferior; indicação de
projeções de coberturas; identificação de iluminação zenital; eventual
discriminação dos tipos de pisos.
2.6 ROTEIRO SEQUENCIAL DE DESENHO
A seqüência de etapas descriminada a seguir procura indicar o caminho mais
lógico a ser seguido no desenho da Planta Baixa de um projeto de arquitetura. Na
seqüência apresentada, além de uma maximização da racionalização do uso do
instrumental de desenho, procura-se um andamento lógico que, inclusive, viabilize
uma conferência do desenho e sua elaboração e minimize ao máximo a
probabilidade de erro.
1ª ETAPA (com traço bem fino – traço de construção):
1. Marcar o contorno externo do projeto;
2. Desenhar a espessura das paredes externas;
3. Desenhar as principais divisões internas;
2ª ETAPA (com traços médios):
1. Desenhar as aberturas – portas e janelas;
2. Desenhar as louças e pia da cozinha – “áreas molhadas”;
3. Desenhar a projeção da cobertura em linha fina contínua;
4. Apagar o excesso dos traços.
3ª ETAPA (com traços médios e fortes):
1. Desenhar as linhas tracejadas – projeção da cobertura, reservatórios,
outras;
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2. Denominar os ambientes;
3. Indicar a área de cada ambiente e a especificação do tipo de piso;
4. Cotar aberturas – portas, janelas, portões;
5. Colocar a indicação de nível;
6. Cotar o projeto;
7. Desenhar piso nas “áreas molhadas”;
8. Indicar a posição dos cortes; a entrada principal; o norte;
9. Acentuar a espessura dos traços da parede;
10. Denominar o tipo de desenho (planta baixa, planta de cobertura,
implantação...), bem como colocar a escala (1/50; 1/100...).
1ª ETAPA:
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2ª ETAPA:
24
3ª ETAPA:
COZINHA
6,35 M²
200x150/90
150x100/110 PLANTA BAIXA
ESCALA 1/50
80x160/30
90x220
00
VARANDA
5,50 M²
+0,40
SALA
13,50 M²
DORMITÓRIO
11,40 M²
80x210
projeção cobertura
+0,20
N
150x100/110
BANHO
4,60 M²
CIRCULAÇÃO
1,95 M²
100x60/160
+0,40
80x210 SERVIÇO
1,95 M²
+0,20
80x210
+0,40
100x60/160
+0,38
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2.7 OBSERVAÇÕES GERAIS
As Plantas Baixas, sempre que possível devem ser representadas na escala 1:50.
Em projetos de edificações de grande porte, por inconveniência ou impossibilidade
de tamanho do papel, é permissível o desenho na escala 1:75 ou 1:100.
Dedicar especial atenção às espessuras dos traços em uma representação
definitiva de Planta Baixa. Os elementos mais próximos do plano de secção são
representados em espessura grossa (paredes e elementos estruturais cortados);
os elementos a distância média até o nível do piso, ou de menos importância, em
espessura média (portas, janelas, equipamentos de construção, aparelhos
elétricos, escadas, etc); e os elementos ao nível do piso ou de menor importância,
em espessura fina (pisos, degraus, hachuras, linhas de cota e auxiliares,
tracejados de elementos não visíveis, etc).
Os títulos da Plantas Baixas, conjuntamente com as respectivas escalas, devem
ser posicionados, com caracteres em destaque, abaixo e preferencialmente à
esquerda dos respectivos desenhos.
As áreas construídas devem constar em legenda ou em quadro em destaque,
próximo à legenda.
terça-feira, 15 de setembro de 2009
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This is a really informative knowledge, Thanks for posting this informative Information. Glossário
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